segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Circuito Zero Grau

Juiz de Fora sempre foi reconhecida pelo seu frio inverno e suas frias noites durante todo o ano. Enquanto diversas iniciativas culturais se esforçam para aquecer a vida artística de nossa cidade, algo nos deixava em falta perante nossas vizinhas mineiras: um festival de inverno.

Em 2010, as produtoras culturais Epinefrina e Três Pontos, se associaram aos espaços culturais Diversão & Arte, Espaço Experimental Nina Mello, e à galeria de arte Hiato, para concretizar um circuito com programação de quatro dias em sequência, ocupando espaços públicos e privados, expondo a produção de artistas locais e internacionais. Tal circuito significou para nós o embrião de um festival maior.

A realização de tal proposta, sem recursos financeiros ou perspectivas de lucro, só foi possível graças à colaboração entre forças já estabelecidas. A rede se teceu através de pontos já existentes. Nós, produtores culturais, nos esforçamos ao máximo para articular os artistas, os espaços e o público. Os espaços culturais abrigaram com harmonia e zelo os eventos, os visitantes e os próprios produtores. E enfim, os artistas fizeram o que melhor sabem fazer.

A abertura do circuito (quarta-feira, 14/07/10) se deu com uma palestra da filósofa e produtora cultural Neysa Campos, na livraria Quarup, sobre o cenário artístico juizforano dos anos 70 à atualidade. Uma inspiradora demonstração rica em imagens do potencial de nossa cidade.
Em seguida, a praça Jarbas de Lery proporcionou ao povo demonstrações culturais livres e de diferentes naturezas. A começar com o grupo literário “ECO Poético” que, munidos de um megafone, transmitiam aos passantes seus escritos; passando pela performance surpreendente da peça teatral “Entre Infernos”, dirigida por Páblio Sanábio, premiada nacionalmente; culminando na bela apresentação musical do grupo “São do Mato”. A “Quitanda Cultural” (evento já estabelecido na cidade) também se instalou na pracinha São Mateus, em meio a intervenções de stencil, colagens, frases e dezenas de skatistas da AJS (Associação 
Juizforana de Skate) que fortaceleram e alegraram o primeiro dia do circuito.

Quinta feira foi a vez do Espaço Experimental Nina Mello. Começando com uma palestra de Mauro Pianta, um dos principais fotógrafos audiovisuais da região, sobre fotografia no documentário, seguida do filme “Urbe”, de Marcos Pimentel, outro expoente local.
No entanto o foco da noite era o lançamento da exposição coletiva de fotografia “O Frio de Cada um”, com a participação dos artistas: Valéria Faria, Alessandra Rizza, Mário Ângelo, Nina Mello e André Fonseca. O VJ Tiagom projetava na parede externa à galeria, ao som de uma discotecagem Afrobeat (homenagem à Copa do Mundo da África).

O Cinema e a Animação foram o foco do terceiro dia, no “Epinecine”, sediado no espaço cultural Diversão & Arte. Uma sessão internacional de animação abriu o dia, seguida por curtas brasileiros premiados. Destaque para a produção vasta de Alessandro Côrrea (animador juizforano), para os curtas animados “Leftovers” de Igor Coric (Sérvia), e “Inspiração” de Elodie Rivalan (França).

Concluindo as sessões, um debate sobre a produção audiovisual independente teve lugar na própria sala de projeção. Com a presença de, Alexandre Alvarenga e Rogério Terra (cineastas e professores de cinema), Raphael Salimena (cartunista e crítico) e Bruno dos Santos (profissional atuante), estudantes, videomakers e interessados puderam refletir e discutir as ideias sobre tal área.

 
O último dia do circuito foi sediado na galeria de arte Hiato, do artista plástico Petrillo. Exposição de desenhos de Luiz Gonzaga, fotografias still do filme “El Museo de la Nada”, de André Goés, performance da artista Priscila de Paula, com sonoplastia de Pedro Paiva. Em seguida o coletivo “Ritmo, Arte, Manifesto!” se juntou ao grupo de DJ’s “Vinil é Arte” para uma discotecagem na praça Antônio Carlos, em frente ao Bar da Fábrica, onde se sucedeu um show da banda Silva Soul - Tributo a Tim Maia.

Foi dessa forma: Costurando ideias, ações e coletivos; através de uma organização sistêmica na qual todos possuem consciência do todo, responsabilidades, e vontade de realizar o que querem; acreditando que o cidadão juizforano quer e sabe valorizar uma boa iniciativa cultural; que o circuito Zero Grau foi realizado. E é dessa forma que ele será, em 2011, um festival de inverno.

Pedro Salim

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